Neldo Samard permaneceu imóvel atrás de pequenos arbustos no meio da mata. A mão direita repousava firmemente no cabo da espada enquanto que os olhos fitavam um veado parado logo à frente. Sabia que o seu plano poderia levá-lo à forca assim que a lâmina penetrasse a pele do animal. Era sempre o destino de quem atacasse um bicho daquele porte, considerado pelo rei como um animal real.
Mas não pestanejou. Levantou-se lentamente e rastejou lentamente em direção ao veado, que se distraía em busca de alimento na relva rasteira. Neldo sentiu a falta do seu belo conjunto de arco e flechas, que estava a centenas de milhas daquele lugar. Não teve outra escolha. Impulsionou sua espada o mais forte que conseguiu e a observou rodopiando no ar até encontrar a lateral do veado, que não teve chance alguma de desviar-se. Depois de quase três horas, com tentativas falhas, ele conseguiu.
Aproximou-se, satisfeito com a pontaria. O veado guinchava baixinho, até que o sangue inundou a boca e ele parou de respirar. Neldo puxou sua espada. Ainda não havia terminado. Fincou a lâmina da sua arma no chão e puxou uma faca da cintura. Agachou-se e tentou ser ágil. Abriu as entranhas do animal morto até chegar ao coração, o sangue quente aquecendo suas mãos. Usou o pequeno punhal com destreza para arrancar o órgão do bicho. Rapidamente pôs o coração numa pequena sacola e fugiu rapidamente do meio da floresta.
Seu cavalo estava amarrado num grande árvore fora da mata, mas escondido o suficiente para que quem passasse pela estrada não o visse. Montou e voltou para a estalagem onde se hospedara dias antes. Sabia que faltava pouco. Lentamente, adormeceu.
No dia seguinte pagou pelos dias hospedado e seguiu pela estrada até pegar outro caminho, que dava para o oeste. O caminho que ele percorreu até ali fora longo. Saiu da costa leste e trotou por cinco dias até se aproximar o suficiente da Tribo de Loyer. Ali seria o seu último ato até voltar à sua vida normal.
Enquanto pensava no trajeto que percorreu, notou que os grandes carvalhos foram dando lugar a árvores menores e menos densas. Quando passou pela Ponte das Pedras, avistou a Tribo. Diminuiu a passada e continuou cavalgando até o largo da aldeia. Ele sabia que Loyer o aguardava há muito tempo. E lá estava ele, em frente ao Templo, conjecturando todo tipo de artimanhas com os guerreiros mais reverenciados daquele vilarejo.
Neldo desceu do cavalo e o amarrou num tronco. Loyer e todos os seus homens já o encaravam. O chefe da tribo apenas esperou até que o recém-chegado se aproximasse. E foi isso que Neldo fez. De perto, a cicatriz acima do olho direito de Loyer era ainda mais feia e acentuada. Seus cabelos vermelho-alaranjados pareciam as chamas de um archote. Ele olhou severamente para Neldo.
- Espero que você tenha boas notícias para mim - sua voz parecia o som de um monstro saindo das profundezas de um abismo. Neldo passou a mão pela sacola em sua cintura, onde guardara o órgão do veado. Chegara a hora de contar a sua história.
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