Algumas semanas atrás...
O vento corria gelado pelas planícies de Oldorne. O amanhecer era sempre frio naquela época do ano. Neldo Samard trotava lentamente havia uma hora, enquanto seguia o seu rumo em direção ao norte. Era um típico aventureiro do sul, e desde muito moço, quando saíra da casa do nobre que o criou, ele percorreu por todas as terras do imenso reino como um mercenário, recebendo ouro em troca de sua exímia espada.
Ficara sabendo da batalha dos Senhores Feudais ao norte das Pontas Negras contra os bárbaros, que insistiam em invadir Oldorne, sempre de maneira impiedosa e cruel. Talvez fosse a hora de deixar as águas quentes do sul e partir para a direção oposta do reino em busca de uma pequena fortuna.
Passando mais ou menos pelo meio do caminho, Neldo já tinha percorrido por dez dias e ainda lhe faltaria o mesmo tempo gasto sobre o lombo do seu corcel. Passou a sua última noite em uma hospedaria barata de beira de estrada, mas já sentia saudades do clima ameno dentro das instalações. Continuou o seu caminho durante todo o dia, parando apenas para comer um pouco do pão comprado na hospedaria. A noite se anunciava quando ele viu pequenas casas à esquerda. Talvez pudesse passar a noite em algum local daquele pequeno vilarejo.
Pegou um caminho de terra e andou lentamente até que os casebres ficassem próximos o suficiente para Neldo ter certeza que não eram tão pequenos assim. A aldeia era silenciosa e poucas pessoas caminhavam pela rua. A maior parte delas fitou Neldo com um olhar curioso e nitidamente desconfiado. Resolveu que era a hora de desmontar e caminhou o resto do caminho a próprios pés, puxando o corcel pelas rédeas. Um homem que olhava entrou numa casa e segundos depois ele saiu acompanhado de homens maiores e mais imponentes.
Um deles parecia o líder, pois vinha à frente com o tronco erguido como um rei. Seu rosto era grosseiro, as marcas da idade brotando aqui e ali. Acima do olho direito, uma cicatriz profunda e comprida. Talvez fosse fruto do fio de uma machado, presumiu. Seu cabelo flamejava num vermelho intenso, como chamas.
- Quem é você? - a voz do homem da cicatriz era mais rude que a aparência.
- Meu nome é Neldo Samard, do sul. Estou apenas procurando um lugar para dormir. Nada mais.
O homem fitou a sua espada e o seu corcel.
- Você é nobre?
Neldo sabia que se a sua resposta fosse positiva, o tratamento seria diferente.
- Não, senhor. Sou apenas um homem comum que procura um lugar seguro para passar a noite.
- Homens comuns não carregam espadas com empunhaduras bem trabalhadas como esta sua. Muito menos possuem ouro para sustentar um corcel bem cuidado assim.
Neldo sentir o ar ficar tenso. Notou que nenhum dos homens tinha falta de uma arma na cintura. O homem da cicatriz também tinha uma.
- Você parece um ladrão - ele disse.
Neldo sabia que as coisas ficariam complicadas. Perguntou-se se daria tempo de montar no cavalo e correr o mais rápido que pudesse, mas alguns dos homens da aldeia já se posicionavam em sua retaguarda.
- Não sou ladrão. Sou um mercenário. Lutei por Oldorne nos últimos vinte anos. Tudo isto que você está vendo aqui é resultado do meu empenho em manter o reino em paz.
O ruivo avaliou cada pedaço de suas vestimentas.
- Se é mesmo um mercenário, talvez queira um serviço. Pagaremos bem.
- Senhor Loyer... - outro morador tentou impedi-lo de falar, mas o líder dentre os homens do lugar apenas levantou a mão e o outro parou de falar.
- Que tipo de serviço? - Neldo interessou-se.
- Nossos filhos. Estão desaparecendo. Cada dia que passa tem aumentado o sofrimento de nossas mulheres, que choram angustiadas pelas crianças que não voltam.
O homem de cabelos vermelhos não demonstrou emoção ao contar brevemente a história. Era como se contasse a história de algum desconhecido, sem vínculo algum com ele. Neldo não gostava de homens assim. Tendiam ser cruéis e quase nunca cumpriam as suas promessas. Ele fez acordo com muitos assim e o final da história sempre foi ruim.
- E por que nenhum dos homens aqui sai à procura dos garotos?
Loyer, como fora chamado, respondeu prontamente:
- Ninguém aqui á hábil o bastante para se afastar da aldeia - ele fez uma pausa. - Além disso, acreditamos que algum mal intencionado possa estar raptando nossas crianças para fins maldosos. Precisamos de um guerreiro de verdade para combater este bandido.
Ele continuava rígido e indiferente. Neldo receou que ele pudesse estar mentindo. Seria prudente rejeitar o trabalho.
- Acredito que oitenta moedas de ouro seriam o suficiente para você encontrá-los - completou Loyer.
Neldo pasmou. Havia muito tempo que ele não era tão bem pago. Com aquele ouro, poderia passar muitas semanas sem preocupar-se. Pensou por um instante.
- Aceito.
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